25 de fev. de 2011

Observar

(publicado no dia 28/07/2010 no antigo blog)


  “Mulher que passa informação errada pra mim tem que se ferrar, vocês estão ferradas!”
  Saí aqui do prédio da Folha, desci pela Rua Ana Cintra, cheguei até a Avenida São João, entrei no ônibus Terminal Pirituba e segui meu caminho para casa como sempre faço. Até então, nada de anormal, coletivo confortável, pessoas educadas e alegrias. 40 minutos depois chego à metade do caminho, desço do ônibus na Rua Miguel de Castro, em Pirituba, e lá aguado o segundo coletivo para finalmente chegar na minha casa. No entanto, notei que havia algo de errado no ponto, uma mulher extremamente aporrinhada gritava “MULHER QUE PASSA INFORMAÇÃO ERRADA PRA MIM TEM QUE SE FERRAR, VOCÊS ESTÃO FERRADOS!”.
  Era uma senhora, aparentemente quarenta anos, completamente bêbada e certamente irritada por alguém ter passado alguma informação errada para ela.
- Esse ônibus que vem ai passa no Cantagalo? – Gritava ela para todas as outras pessoas do ponto.
  Nesse momento eu já me sentia um cara privilegiado e se fosse antropólogo, sem dúvidas, estaria muito feliz por está presenciando aquela espécie.
  Como sou um cara de sorte, ela entrou no mesmo ônibus que eu.
- Oh Motorista! Esse ônibus passa no Cantagalo? - Gritou novamente.
  Continuei meu trabalho antropológico, frio, sem me meter, sustentava certa distancia para não me envolver no caso e observando, claro! Notava não só ela, mas também, todos ao seu redor, que, aliás, não queriam contato com a bêbada que insistia nos gritos:
- Mulher que passa informação errada pra mim tem que se ferrar, vocês estão ferradas!
  Sabia que naquele momento ela não seria capaz de fazer algo de errado para ninguém ali dentro, portanto, as ameaças eram em vão, acredito até que seria uma tática para ativar a adrenalina e liberar o álcool que estava em seu corpo.
  Finalmente ela chegou ao seu destino, antes de descer ela disse que todos ali iriam se ferrar e me deu uma olhada tão sinistra que se eu tivesse alguma crença, seguramente, estaria amaldiçoada.
  Deixei meu lado antropólogo de lado e pensei “o velha desgraçada, como pode me encarar dessa maneira?”. Porém, logo depois, fiquei com pena dela e sinceramente espero que ela tenha chegado bem ao seu lar e, por fim, todos puderam seguir em paz para casa e agora sei onde fica o Cantagalo.
PS: Não encontrei nenhuma imagem que pudesse representar esse texto, então vai essa mesmo.


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